Geisel: repressão por meio de prisões é ineficaz
No dia 24 de setembro de 1975, em pleno “arrastão” do II Exército e do DOI paulista contra militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o presidente Ernesto Geisel mandou um bilhete ao então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), general João Baptista Figueiredo, criticando um relatório do órgão sobre o assunto. No bilhete, Geisel ainda pedia a Figueiredo que falasse com o ministro do Exército, general Sylvio Frota, e com o chefe do Centro de Informações, general Confucio Danton de Paula Avelino, condenando a política de prisões em massa. Com um lápis vermelho, Geisel acrescentou: “Falei com o Frota”.
No dia 24 de setembro de 1975, em pleno “arrastão” do II Exército e do DOI paulista contra militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB), o presidente Ernesto Geisel mandou um bilhete ao então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), general João Baptista Figueiredo, criticando um relatório do órgão sobre o assunto. No bilhete, Geisel ainda pedia a Figueiredo que falasse com o ministro do Exército, general Sylvio Frota, e com o chefe do Centro de Informações, general Confucio Danton de Paula Avelino, condenando a política de prisões em massa. Com um lápis vermelho, Geisel acrescentou: “Falei com o Frota”.
Duas semanas antes, havia morrido numa cela do DOI paulista o tenente reformado da PM José Ferreira de Almeida, o Piracaia. Era acusado de integrar uma célula comunista de oficiais da corporação. Uma semana antes, em Fortaleza, morrera no DOPS outro militante do PCB. Nas versões oficiais, ambos haviam se enforcado em suas celas.
Trinta e dois dias depois do bilhete de Geisel, o jornalista Vladimir Herzog morreria na mesma cela de Piracaia, com um enforcamento simulado na mesma grade.
Em seu bilhete, Geisel argumentava: se o comunismo “vem sendo combatido tenazmente há mais de dez anos, força é convir que esse combate tem sido ineficaz”. Não se conhece o relatório a que Geisel se refere. A seguir, a íntegra do texto:
Figueiredo
Peço que você converse na área do Exército — Frota e Confucio — dizendo que não concordo com os termos deste relatório, citadamente com a conclusão final do item 1-1. Será que o inimigo é tão forte? Será que somos tão fracos? Não estão vendo fantasmas?, etc. etc.
Também não concordo com a orientação que prevalece ainda, de sempre se resolver o problema através de prisões. Na realidade não se resolve nada e, na maioria dos casos, o processo acaba sendo contraproducente. É preciso usar um pouco mais a inteligência e ser menos apaixonado. Há uma inércia de procedimento que vem desde a atuação parcial de 1964 e que persevera, qual um realejo que só sabe tocar uma música.
Se o comunismo está tão forte como dizem — forte e ameaçador — e se vem sendo combatido tenazmente há mais de dez anos, força é convir que esse combate tem sido ineficaz. Não será o caso de fazer um honesto exame crítico, rever o que está errado e imaginar novos e melhores procedimentos?
Em 24 set 75 [assinatura de Geisel]