Conselho tônico
Em 25 de agosto de 1961, temendo um possível golpe contra seu mandato, o presidente Jânio Quadros, que assumira o posto em 31 de janeiro daquele ano, despachou sua renúncia com um bilhete manuscrito de 27 palavras e um manifesto de ressonância getulista (“forças terríveis levantam-se contra mim”). Egocêntrico e megalomaníaco, Jânio concebera um golpe desconexo, em que não havia lugar para cúmplices, só para súditos. Após a renúncia, ele viajou para a Europa dizendo à filha: “Virão me buscar”. Não houve quem o fizesse.
Em 25 de agosto de 1961, temendo um possível golpe contra seu mandato, o presidente Jânio Quadros, que assumira o posto em 31 de janeiro daquele ano, despachou sua renúncia com um bilhete manuscrito de 27 palavras e um manifesto de ressonância getulista (“forças terríveis levantam-se contra mim”). Egocêntrico e megalomaníaco, Jânio concebera um golpe desconexo, em que não havia lugar para cúmplices, só para súditos. Após a renúncia, ele viajou para a Europa dizendo à filha: “Virão me buscar”. Não houve quem o fizesse.
Como o então vice-presidente, João Goulart, visitava a China comunista, foi empossado interinamente na Presidência o deputado Paschoal Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara. Deu-se início a um dos momentos mais delicados da história republicana brasileira. Se, por um lado, os ministros militares fizeram saber a Mazzilli e a diversos parlamentares que não admitiriam a posse de Goulart, por outro, o governador gaúcho Leonel Brizola, cunhado de Goulart, pronunciou a palavra que demarcaria a crise e o colocaria na história do país: “Legalidade”.
Após a posse de Mazzilli, Ernesto Geisel foi nomeado chefe do Gabinete Militar pelo ministro da Guerra, Odílio Denys, e passou a acompanhar de perto os passos do presidente interino. Com a ida de Denys para o Rio de Janeiro, Geisel se tornou o único general a ficar em Brasília. Mazzilli era seu virtual prisioneiro e sabia disso. Indicando a extensão de seu gabinete, ele dizia: “Sei que sou presidente aqui dentro deste retângulo, mas, passada aquela porta, não sei se mando”. Não mandava.
Geisel dormia no Palácio do Planalto, numa cama de campanha. Além do comando das tropas de Brasília, chefiava uma equipe de oficiais no Planalto e outra no Conselho de Segurança Nacional, no Rio de Janeiro. Trabalhava duro, e a equipe carioca, tendo à frente o general Golbery do Couto e Silva, chegou a receber um conselho tônico por meio de um emissário de Geisel: “O general determinou-me recomendar-lhe tomar diariamente injeções de glucose na veia, a fim de que se possa evitar a exaustão. Em Brasília todos os oficiais do gabinete estão ‘dopados’”.