As tensas relações entre a ditadura e o Cinema Novo
Militares se irritam com o filme ‘Pra frente, Brasil’, sobre torturas, tiram Celso Amorim do comando da Embrafilme e o SNI veta sete grande diretores
Em 1979, o diplomata Celso Amorim, atual ministro da Defesa, foi nomeado para dirigir a Embrafilme, a estatal que financiava a indústria cinematográfica. Ele trabalhara com o diretor Ruy Guerra na edição de Os cafajestes e com Leon Hirszman na edição de um episódio de Cinco vezes favela. A escolha, endossada pelo ministro da Educação, Eduardo Portella, foi vista como uma demonstração de que o governo do general Figueiredo vinha com tintas mais liberais que seu antecessor.
As relações do regime com os cineastas eram tensas desde os primeiros dias da ditadura.
Em 1979, o diplomata Celso Amorim, atual ministro da Defesa, foi nomeado para dirigir a Embrafilme, a estatal que financiava a indústria cinematográfica. Ele trabalhara com o diretor Ruy Guerra na edição de Os cafajestes e com Leon Hirszman na edição de um episódio de Cinco vezes favela. A escolha, endossada pelo ministro da Educação, Eduardo Portella, foi vista como uma demonstração de que o governo do general Figueiredo vinha com tintas mais liberais que seu antecessor.
As relações do regime com os cineastas eram tensas desde os primeiros dias da ditadura.
Em 1982 o céu caiu sobre o presidente da Embrafilme. Chegara aos cinemas Pra frente Brasil, de Roberto Farias. O próprio título ironizava o jingle que a máquina de propaganda do governo do general Médici produzira, transformando-se na trilha sonora das comemorações. O enredo juntava a festa das ruas com um episódio de prisão e tortura. Entre os torturadores estava uma réplica do delegado Sérgio Fleury.
Diante dos protestos de militares, foi o próprio presidente Figueiredo quem levou o caso de Amorim para a reunião da manhã de 29 de março de 1982, quando se encontraria com os chefes do Gabinete Civil (João Leitão de Abreu), do Gabinete Militar (general Danilo Venturini) e do Planejamento (Delfim Netto).
Na reunião da tarde, Venturini bateu o martelo: “Demissão do presidente da Embrafilme. Falar com Ludwig [Rubem Ludwig, ministro da Educação]”.
Na lista de nomes vetados pelo SNI estava a elite do Cinema Novo:
- Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma)
- Paulo César Saraceni (O desafio)
- Carlos Diegues (Bye bye Brasil)
- David Neves (Memória de Helena)
- Arnaldo Jabor (Toda nudez será castigada)
- Nelson Pereira dos Santos (Rio, 40 graus e Vidas secas)
- Luiz Carlos Barreto (diretor de fotografia de Deus e o Diabo na Terra do Sol)
O presidente Figueiredo respondeu ao chefe do SNI, general Octavio Medeiros: "Nenhum desses está cogitado! O Aloísio [Magalhães, secretário de Cultura do Ministério da Educação e Cultura] esteve reunido com esses elementos, mas não para isso".