Geisel altera discurso para não atingir Médici
Sucessor de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) na Presidência da República, Ernesto Geisel (1974-1979) certa vez pediu mudanças no texto de um discurso que se referia ao ex-presidente. O período Médici fora marcado por forte expansão econômica — era o “milagre brasileiro”, segundo o regime. Mas também havia sido a época mais dura da repressão: entre 1969 e 1973, torturas e mortes se tornaram ainda mais comuns.
Em abril de 1976, chegou à mesa de Geisel, no palácio do Planalto, um texto com um discurso que ele deveria ler em Ouro Preto (MG) durante as comemorações do 21 de Abril. Havia sido preparado pelo então ministro do Interior, Mauricio Rangel Reis.
Sucessor de Emílio Garrastazu Médici (1969-1974) na Presidência da República, Ernesto Geisel (1974-1979) certa vez pediu mudanças no texto de um discurso que se referia ao ex-presidente. O período Médici fora marcado por forte expansão econômica — era o “milagre brasileiro”, segundo o regime. Mas também havia sido a época mais dura da repressão: entre 1969 e 1973, torturas e mortes se tornaram ainda mais comuns.
Em abril de 1976, chegou à mesa de Geisel, no palácio do Planalto, um texto com um discurso que ele deveria ler em Ouro Preto (MG) durante as comemorações do 21 de Abril. Havia sido preparado pelo então ministro do Interior, Mauricio Rangel Reis.
Ao repassar as fases da “revolução” — conforme os militares chamavam o golpe deflagrado em 1964 que depôs João Goulart —, o texto buscava sintetizar o período Médici de forma crítica:
O país alcançou intenso ritmo de expansão econômica. Experimentou a Nação Brasileira, durante anos sucessivos, elevadas taxas de desenvolvimento econômico e a inflação mantinha-se sob controle.
Sobreveio, no entanto, ao final de 1973, o início de grave crise internacional e o governo do presidente Ernesto Geisel instalou-se sob sérias responsabilidades nos setores econômico e financeiro. Por outro lado, reconhecia o governo que a expressiva recuperação econômica não fora acompanhada, no nível necessário, de medidas indispensáveis de natureza social.
Geisel anotou no documento, que passou por seu secretário Heitor Ferreira: “Falei ao Rangel para [fazer] alterações na página 7 (...) para não atingir o governo Médici”.
Apesar das diferenças pessoais e também políticas entre os cinco presidentes da ditadura, todos eles se esforçaram para evitar críticas públicas aos antecessores.